12.25.2011

MERGULHAR DE SURPRESA NO NATAL



“Estrelas coloridas de papel são jóias falsas presas lá no céu e quando eu ergo o olhar pro firmamento, juntinhas elas cantam desse jeito”, como canta Mauricio Pereira em ‘Estrelas’. 

Mas ele também canta o ‘Pinguím’, os ‘Balangandans’ de quem tem ‘Compromisso’, que ‘Responde Viscondi’, que vê ‘Motobóis, girassóis etc e tal’, mas que é ‘Quieto um pouco’ e mesmo com ‘Truques com facas’, viaja ‘Pra marte’ num ‘Teco teco amarelo em chamas’ ou vai pra ‘Imbarueri’ ‘Ser boi’ lá.



Em 1997, Mauricio Pereira lançava o segundo disco da carreira solo, o 'Mergulhar na Surpresa'. Um disco mais intimista que o anterior, 'Na Tradição' - que tinha uma banda tradicional como manda o título. Nesse ano, Mauricio eternizava em acetato (forma de dizer, já que os CDs eram produto dominante) o show com voz, piano e saxofone, que vinha apresentando em parceria com Daniel Szafran

A abertura fica a cargo de uma vinheta-canção de Fernando Arbex, 'Soley, soley', seguida por 'Cachorra', uma canção bebop com energia contagiante. 'Imbarueri' já havia sido gravada em parceria com André Abujamra, no 'Mulheres Negras', mas recebeu um arranjo mais simples de piano, voz e assobio, com um pandeirinho caudaloso de Guello.'Tudo que te dou' é o primeiro exemplo do resultado da parceria entre Szafran e Pereira, com "nuvens de pó-de-arroz, ricamente embrulhadas em papel manteiga".



Mauricio Pereira tem ascendência italiana e por isso gravou 'Wanda' de Paolo Conte. 'Um dia útil' é quase um diário musicado, ou um relatório poético do dia-a-dia de um músico. 'Música serve pra isso' é outra regravação do 'Mulheres Negras', desta vez apenas com vozes e a viola caipira de Paulo Freire. 'Tranquilo' é pura poesia em versos métricos. 

"Como é que tá tu" é o mote para 'Tu', uma canção que cresce em progressão de tons. 'Ironia' tem um arranjo que mistura Paulinho da Viola com Johnny Alf, numa cool-bossa-nova como raramente se ouve. 'Pan y leche' é um canção de ninar - já gravada no primeiro disco solo como um bolero‘n’salsa – desta vez, com um arranjo perfeitamente simples de piano e voz.



'Mergulhar na surpresa' - que dá título ao disco - também segue num crescendo microtonal, com adição do melodioso violoncelo de Mario Manga.'Estrelas' também havia sido gravada no disco anterior, mas desta vez recebeu o mesmo arranjo intimista, que permeia o disco e o show em parceria com Daniel Szafran. 'Coyote' é um blues com guitarra de Eduardo Cabello, além dos sempre presentes piano e voz. 'Recipiente (a jam)' também foi gravada antes, mas nesse disco ficou mais natural como se fosse mesmo uma jam-session - como exemplifica o subtítulo - com dois violões gravados por Luis Waack e Daniel Szafran, além das vozes de Skowa e Pereira

'Inventor brasileiro' tem participação de Paulo Lepetit no baixo elétrico. 'Curitibana' é uma versão minimalista para o clássico caipira de Tonico e Tinoco. 'Quem é quem' é uma ode à poesia urbana de Fernando Pessoa. "Ah, mas que delícia de Pessoa!", diz a letra. O disco encerra com 'Modão de Pinheiros (ou É por isso que as pessoas mudam de bairro)', que descreve um causo amoroso nas calçadas do bairro paulistano do título.



Com quatro discos solo, Mauricio Pereira seguiu um caminho natural entre um e outro, sempre olhando para frente com reverência ao passado. Pereira ainda mantém opções de espetáculos com piano e voz do 'Mergulhar na Surpresa' e de seus discos posteriores, 'Pra Marte', 'Canções que Um Dia Você já Assobiou Vol. 1' e ‘Carnaval Turbilhão’, com a banda ‘Turbilhão de Ritmos’, além de outros repertórios diferenciados com a mesma banda ou como a dupla caipira ‘Pereirinha e Pereirão’, com o filho Tim Bernardes. 

Mas foi com o 'Mergulhar na Surpresa' que ele encerrou este ano, no espetáculo 'Mergulhar na Surpresa de Natal', apresentado no Teatro da Vila Madalena no dia 23 de dezembro. Do repertório, pode-se dizer que entraram músicas dos três álbuns autorais de Mauricio Pereira. Como uma versão de ‘Pra marte’, que foi originalmente composta, com Daniel Szafran, para piano e voz quase como um rock - mas no disco virou um samba-choro.



O disco ‘Mergulhar na Surpresa’ é mesmo um álbum de natal! Mesmo que seja por uma questão involuntária... Pois essa expressão - que deu nome à canção e ao álbum - pode muito bem representar o sentimento natalino e toda aquela sensação de renovação que essa data traz. 

Imaginando o que o menino quis dizer com 
 “mergulhar na surpresa!”

1998 Mergulhar na Surpresa

1. Soley soley
2. Cachorra
3. Imbarueri
4. Tudo eu te dou
5. Wanda
6. Um dia útil
7. Música serve para isso
8. Tranquilo
9. Tu
10. Ironia
11. Pan y leche
12. Mergulhar na surpresa
13. Estrelas
14. Coyote
15. Recipiente (a Jam)
16. Inventor brasileiro
17. Curitibana
18. Quem é quem
19. Modão de Pinheiros (ou É por isso é que as pessoas mudam de bairro)

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12.18.2011

A NIGHTMARE BEFORE CHRISTMAS



‘Lulu’, o disco da união de Lou Reed com o ‘Metallica’ de Lars Ulrich, James Hetfield, Kirk Hammet e Robert Trujillo, deu dor de cabeça aos ouvintes. Tanto os fãs do ‘Metallica’ como os de Reed, torceram o nariz para esse disco, sem mencionar toda a massa-crítica.

A idéia surgiu do fascínio de Lou Reed com duas obras do dramaturgo alemão Frank Wedekind. As peças de teatro em questão são os chamados ‘The Lulu Plays’ (As peças de Lulu em português), que contam a história de uma mulher descrita como “o verdadeiro animal, selvagem, belo espécime e o primor da forma de mulher”.

 

A primeira peça, ‘O Espírito da Terra’ (Erdgeist, no original alemão), descreve a vida de Lulu, desde sua infância cheia de abusos do pai, passando por suas aventuras amorosas entre amantes e maridos mortos, para um final devastador com sua condenação por assassinato – a vítima foi o último marido e primeiro amante, Dr. Schön (o mesmo que a livrou dos abusos do pai e foi seu tutor).

Na segunda peça, ‘A Caixa de Pandora’ (Die Büchse der Pandora, em alemão), conta toda uma série de aventuras e viagens de Lulu, que foge da prisão com o auxílio de suas amantes, as Condessas lésbicas. Primeiro em Paris, mas Lulu não consegue se livrar da vida de proscrita e segue para Londres, onde vira prostituta e morre nas mãos do famoso Jack, o Estripador. Essa peça também virou um filme mudo de 1929, intitulado ‘Pandora’s Box’.

 

Os poemas de Lou Reed são violentos e profanos e podem ser considerados Buckowsckianos em certas partes, como crônicas de um velho safado. Reed conta a história de Lulu ao inverso, começando por uma suíte de abertura, que evoca todo tipo de sórdidas influências, explícitas na frase de abertura, “eu cortaria minhas pernas e tetas fora (I would cut my legs and tits off, em inglês)”, e seguindo para suas reflexões post-mortem em ‘The view’.

Em ‘Pumping blood’, Reed demonstra todo o fascínio de Lulu perante seu assassino, com versos como “I will swallow your sharpest cutter, like a colored man’s dick”, que não me sinto confortável em traduzir, mas seria algo como “vou engolir sua navalha como a porra dum pinto dum negão”. Porra, Lou Reed! Porra, Hetfield!! Porra, Metallica!!! O Lars eu até podia imaginar... Mas, Porra!!!! Caraleo!!!!! Putaqueospariu!!!!!!

 

Em ‘Mistress dread’, Reed canta “I’m a woman who likes men”, numa faixa pesada e rápida. O teor das letras é, de certa forma, constrangedor, mas ao mesmo tempo transgressor por cauda da voz voz rouca e suja de Reed. Já ‘Iced honey’ descreve Lulu como sonhadora, enquanto ‘Cheat on me’ mostra uma amante sentimental contradizendo a esposa ninfomaníaca.

O segundo CD começa com ‘Frustration’, que descreve o desprezo com que Lulu encara seus parceiros sexuais, seguida por ‘Little dog’, antecipando esses sentimentos mundanos, com os quais ela vai passar a encarar todas futuras relações amorosas e sexuais, “Little doggie face to a cold hearted pussy, you could have a taste”, que também nem sei mais como traduzir...

 

‘Dragon’ descreve a adolescência de Lulu e o período em que foi tutelada pelo Dr. Schön – que eventualmente seria assassinado como o terceiro marido. Sua insatisfação como amante, como mulher, como filha e todo sentimento de pertencer à escória da sociedade vêm a tona nessa forte e pungente poesia de Reed, com todo o peso do ‘Metallica’, numa faixa de longos 11 minutos.

A última peça desse literal quebra-cabeça é a canção de 19 minutos, ‘Junior dad’. Uma singela narração poética, que descreve os abusos sexuais do pai de Lulu, e os define como “selvageria psíquica”, vindos da cabeça de um velho safado e lambedor de vulvas menstruadas.

 

Darren Aronofsky já está escalado para dirigir o clipe de ‘Iced honey’, mas já apresentou uma filmagem de Lou Reed com a própria banda tocando ‘The view’, para acompanhar o lançamento do disco.

Reed e o ‘Metallica’ também já se apresentaram tocando ‘Sweet Jane’ e ‘White light/ White heat’, da época do ‘Velvet Undergound’, além de outras faixas de ‘Lulu’.



‘Lulu’ é um álbum que incomoda, tanto pelas letras violentas, quanto pelo som pesado e dissonante, que muitas vezes não combina com a voz de Reed.

O disco é um espetáculo sado-masoquista que mais parece um pesadelo sonoro, bem na véspera do natal. Mas quem sabe no futuro seja melhor apreciado e visto como uma obra clássica repleta de ousadia.  

2011 Lulu (Lou Reed + Metallica)

Disc 1
1. Brandenburg gates
2. The view
3. Pumping blood
4. Mistress dread
5. Iced honey
6. Cheat on me 

Disc 2
1. Frustration
2. Little dog
3. Dragon
4. Junior dad

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12.11.2011

THE AMPLEXOS SOUL SOUNDSYSTEM

O som do ‘Amplexos’ mudou. A banda seguiu um caminho incomum, saindo da zona de conforto e lançando um novo EP, com uma pegada diferente e inovadora.

Lembrando que o primeiro disco do ‘Amplexos’, de 2008, foi um grande sucesso na internet e figurou entre as primeiras colocações em várias votações na internet. Mesmo assim a banda parou de tocar as músicas deste disco e corajosamente investiu em um material mais recente, neste ‘Manifesta EP’.

O ‘Amplexos’ existe há três ou quatro anos, e nota-se a evolução instrumental dos integrantes, Guga na voz e guitarra, Leandro Vilela na guitarra, Flavio Polito no baixo, Martché nos teclados, Leandro Tolentino na percussão e Mestre André na bateria.

Neste EP, eles flertam com ritmos como dub, reggae e afrobeat. Conversei com Guga sobre este lançamento...

Como foi a gravação deste EP?
Gravamos em Volta Redonda, interior do Rio, com o Jorge Luiz Almeida. Depois, levamos as gravações todas pro Buguinha, que fez a mix, a masterização e os dubs!!!
A gente entregou uma parada que já tava pronta, mas tava crua... Tipo, se tu reparar, as músicas são bem longas, porque a gente foi tocando eternamente... Já pensando nas brincadeiras do Buguinha.

Amplexos - Leão (ao vivo) from amplexos on Vimeo.

Mas influenciou bastante o som de vocês, né? Porque está bem diferente do primeiro disco e do EP ‘A Atriz’...
Então, cara... Na verdade, o Buguinha não sabia nem o que era a parada... Hehehehe. A gente gravou por conta própria mesmo, com o Jorge dando aquela moral no estúdio (ele conseguiu fazer o que a gente queria, que era captar todo mundo tocando junto, ao vivão). Depois é que a gente foi caçar alguém pra fazer esse trabalho pós, e a gente já tinha as referências todas na cabeça de Lee Perry, King Tubby... Aí a escolha do Buguinha foi natural. Ele curtiu o que escutou, foi entrando na onda e acabou tendo bastante liberdade ali durante a mix...
Mas a sonoridade a gente foi desenvolvendo desde 2010, cara. É uma parada que a gente já vinha fazendo, um pouco às escondidas (por trás de ‘A Atriz’ e do nosso primeiro disco).
Foi uma busca mesmo, de encontrar o que batia na gente, o que tocava mesmo, de verdade... Espiritualmente e musicalmente.
E a música negra era o que a gente ouvia, era o que emocionava a gente, é o que emociona... Aí foi só lapidar essa parada, construir em cima daqueles sentimentos.

[Clique aqui para ver o registro do processo criativo da banda]




Quais são os planos para depois desse EP?
A idéia era lançar um disco cheio, que tá até pronto, com 10 faixas, mas resolvemos segurar um pouco porque o ano foi acabando (e fim de ano não é lá muito bom pra lançamentos de discos, exceto do Rei Roberto).
Mas como a gente já vinha divulgando e muita gente vinha "cobrando", pegamos três músicas desse disco e fizemos o EP.
Que é também um teste dessa sonoridade nova que você fala, com os fãs, com o pessoal que curtia a onda do primeirão, de ‘A Atriz’.

Então vai sair um disco cheio, todo produzido pelo Buguinha, né?
Sim, pro ano que vem!

Tem previsão?
O disco sai em fevereiro ou março - antes deve rolar um crowdfunding pra ajudar a gente com umas loucuras aí. A gente quer testar essa parada pra ver se dá certo mesmo! Hehehehehe.

O Manifesta foi independente total?
Yes... O disco todo, desde gravina, mix, master... A gente já vinha pagando com grana de caixa que a gente tinha, de show, de material que a gente vendia e de outros trampos também, é claro.
Porque somos músicos, mas não dá pra viver só de um trabalho... a gente tem vários outros projetos.
E aí sai uma grana aqui, outra ali, tem o trabalho em estúdio que alguns de nós fazemos...

Mas pra bancar esse EP, o que a gente fez foi um show por aqui.
Lançaram uma campanha no facebook (clique aqui para ver esse evento), pedindo pra que a gente voltasse a tocar as músicas do primeiro disco nos shows.

[amplexos] ensaio_5/11/11 FALSA_VALSA from amplexos on Vimeo.

Mas eu curti bastante essa nova sonoridade... Mas vocês não têm medo de alguns fãs não gostarem?
Medo não... Alguns já apareceram dizendo que não gostaram até, mas apareceu muito mais gente dizendo que curtiu demais, apareceu muita gente nova, que não conhecia a banda antes e que chegou por conta dessa sonoridade nova.
Quem vê a gente tocando sabe o que é, sente a parada.

Eu sempre achei referencias aos Mutantes no som de vocês - principalmente no primeiro disco...
A gente escutou Mutantes pra cacete mesmo!
Hehehehehehehe.
Ainda tem um pouco dessa onda, ontem mesmo eu tava escutando ‘Cantor de mambo’ aqui, chapaaaaaaaaando... Que guitarra!

Inclusive a versão de ‘A atriz’ no disco é bem mais “rockenrou” - eu curto bastante...
É, bem mais crua, bem mais direta.

Mas a versão do EP até indica - de certa forma - um caminho pro próximo disco... Não acha isso também?
Eu acho, cara. Ela tem um lance de encaixe, no arranjo, umas guitarras e orgãos com uma onda bastante ska/reggae em alguns momentos. Tem o lance de ela ser dançante (apesar de ser mais próxima de disco music, eu acho) e a onda psicodélica do final...
Mas é um caminho pra essa sonoridade, sim.

Tem uma parada que a gente lançou, há alguns meses, para os fãs. Uma versão DELUXE do primeiro disco, que tinha, além das duas versões de ‘A atriz’, uma versão de ‘Off the wall’ do Michael Jackson, que gravamos pra um tributo que ia sair (e que eu nem sei se saiu, de fato) só com artistas indies.

[Quem quiser pode ouvir essa faixa no player ao lado - ou baixar aqui.]

Essa gravação é de 2010 e é afrobeat total, já tem bastante do som de MANIFESTA, negão mesmo.



Falando em direitos autorais... Como vocês lidam com os free-downloads?
O lance do download grátis é uma parada que a gente acha natural, tem que ser assim. É o jeito de chegar até as pessoas mais facilmente, não tem muita escolha. O EP a gente não deve lançar em CD físico não, mas o álbum, que sai no ano que vem, com certeza, até em vinil, se tudo der certo!!!
No show, o cara que curte acaba ficando emocionado com aquilo, tocado, sangue quente, lágrima nos olhos... Esse cara compra o CD mesmo, isso é fato. Se tem a barraquinha com o CD ali, ele compra - a gente sabe por experiência.
Com o primeiro foi assim, acontece com a gente também, quando a gente vai em shows bacanas.
Mesmo com o disco completinho no HD, no iPod, ainda existe aquela coisa de comprar o material, dar aquela digerida...
E a Ana Costa também, fazendo um trabalho maravilhoso de projeto gráfico, isso tem que sair fisicamente, não tem jeito.

2011 Manifesta EP

1. O leão
2. Making love
3. Festa

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12.04.2011

DE COMO THE ROOTS LANÇOU A ÓPERA-RAP UNDUN E THE MOVIE COM BETTY WRIGHT



O novo album do ‘The Roots’ – ‘Undun’ – é uma obra melancólica. Uma ópera-rap, que conta a triste história da curta existência de Redford Stephens, um jovem pobre de um subúrbio norte-americano.

Com a narrativa inversa, o disco começa pelos minutos finais da vida do jovem Stephens aos 25 anos, em ‘Sleep’, que no melhor estilo de memórias póstumas procura dar um sentido à toda sua existência. Descrita nas faixas seguintes, como uma vida de crimes e vícios, que eventualmente, levaram à sua morte anunciada, em ‘One time’, ‘Kool on’ e ‘The other side’. Em ‘Stomp’, uma faixa que demonstra toda a adrenalina na vida atribulada de Stephens, aos 19 anos.



As faixas seguintes refletem a falta de perspectiva de Stephens. ‘Tip the scale’, mostra um jovem de 16 anos, que sente a pressão da impossibilidade de um destino melhor. As próximas canções são quatro suítes instrumentais, que remetem ao nascimento de Stephens.

Com esse lançamento, o ‘The Roots’ se firma como um dos grandes representantes da soul-music norte-americana.



Em tempo, a banda de ?uestlove e Black Thought, participaram do retorno em álbum de Betty Wright, que há 10 anos não gravava um novo disco, com ‘The Movie’.

Betty Wright and The Roots - Old Songs by DJ Dan Buskirk
Betty Wright & The Roots: Grapes On A Vine ft. Lil' Wayne by S-CurveRecords

Destaques para faixas como ‘Old songs’, ‘Real woman’ com Snoppy Dog, ‘Grapes on a vine’ com Lil Wayne, ‘Whisper in the wind’ com Joss Stone, ‘Baby come back’ com Lenny Williams, ‘In the middle of the game (don't change a play)’, ‘Look around (be a man)’ e ‘You & me, Leroy’.

2011 Undun

1. Dun
2. Sleep
3. Make my (& Big K.R.I.T.)
4. One time (& Phonte and Dice Raw)
5. Kool on (& P.O.R.N.)
6. The other side
7. Stomp (& P.O.R.N.)
8. Lighthouse
9. I remember
10. Tip the scale (& Dice Raw)
11. Redford (For Yia Yia & Pappou)
12. Possibility (2nd movement)
13. Will to power (3rd movement)
14. Finality (4th movement)

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2011 The Movie (Betty Wright + The Roots)

1. Old songs
2. Real woman (& Snoop Dogg)
3. In the middle of the game (don’t change the play)
4. Surrender
5. Grapes on a vine (& Lil Wayne)
6. Look around (be a man)
7. Tonight again
8. Hollywould (& The Messenger)
9. Whisper in the wind (& Joss Stone)
10. Baby come back (& Lenny Williams)
11. So long, so wrong
12. You & me, Leroy
13. The one
14. Go! (live)

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11.27.2011

O UNIVERSO AO LÉU



O disco do Leo Campos, ‘Universo para Leo’, é uma grata surpresa ao ouvinte. Lançado no início deste ano, 2011, em Brasília. Este é primeiro álbum deste jovem promissor compositor brasiliense, que tem canções – que mesmo sem refrão – trazem narrativas de trajetórias singulares.

Logo na primeira faixa, ‘Caverna’, destacam-se o saxofone virtuoso de Ademir Júnior dialogando com a sanfoninha matadeira de Marcos Farias (filho de Marinês), além da onipresente percussão de Leander Motta (que toca em quase todas as faixas). ‘Marcas’ tem a ilustre participação da embaixatriz da voz de Brasília, Ellen Oléria, sem falar na composição brilhante de Campos. Duvido você não cantarolar junto, ou batucar os pezinhos, ou sacudir a cabeçinha, na batida do reggae?

‘O trem’ é um blues meramente candango, que tem a guitarra endiabrada de Dillo Daraújo e a gaita de Cristiano Crispis. ‘Frente fria, verso quente’ é uma balada astronômica, que faz da letra uma galáxia de poesia onírica. ‘Piano sem dó’ foi composta em parceria com outro jovem compositor brasiliense, Tiago Gasta, e brinca com as convenções dos acordes e a poesia da língua portuguesa.

Moises Alves, o ‘Paraibah’, toca seu belo trumpete Milesfônico em ‘Piano sem dó’ e em ‘Mensageiro’. E para finalizar as grandes participações especiais, coube a Dudu Maia, colocar o bandolim choristriônico na singela ‘Star no céu’. A última faixa do disco, ‘O inominável’, é quase uma oração rockenrou, com uma letra poética que diz entre outras máximas, “borboleta é a flor que cai do alto”. Só esperamos que não seja profética como quando em “canção tocada pra ninguém ouvir”, e que esse disco seja baixado, apreciado e ouvido por todos aqueles que apreciam a boa música.

O restante dessa banda ‘Universal’ que gravou o disco junto com Leo Campos (violão e voz), são André Vasconcelos no baixo e Tiago Rosback na bateria, além do Dillo Daraujo na produção, guitarra, teclados e diegese.

Em tempo, Leo Campos, já está em produção de seu segundo CD, ainda sem título, mas que ele garante que será lançado no primeiro semestre de 2012. E eu não podia deixar de falar com ele um pouco sobre música, downloads, parcerias, processos, enfim...

O que te fez seguir esse caminho na música?
Na escola, havia um colega de turma que já tocava violão e escrevia poemas. Tínhamos 16 anos. A gente queria montar uma banda, mas eu não tocava nenhum instrumento e nem escrevia nada. Algum tempo depois, a escola contratou um professor de música. Era a minha chance de aprender um instrumento. Troquei então a aula de religião pela aula de música. Mas eu nem tinha noção do tamanho de meu interesse pela música, até então era apenas experimentação de adolescente. Foi quando na primeira aula, eu já senti que algo havia mudado em minha vida. Fui afetado logo de cara pela música. Eu lembro que o professor passava os exercícios e eu simplesmente não conseguia parar de treinar, até sangrar as pontas dos dedos. Depois disso, tudo em minha vida tinha relação com a música. Por mais que eu tenha continuado os estudos, tenha terminado faculdade e trabalhado em outras áreas, a música sempre me apoiou. Fui então buscar experiências diversas, participei de bandas de baile, toquei até em uma banda de axé. Fiz barzinho (voz e violão) por quase 20 anos. Participei de alguns festivais de música, sendo premiado em alguns deles. Foi quando fiquei convicto de que meu trabalho tinha relevância. Então resolvi gravar um disco. Hoje já não é mais uma questão de escolha. Acho que a música me escolheu.

Você também compõe com outros compositores?
Tenho parceiros incríveis. Uma das coisas que mais me deixa feliz é poder estar sempre com eles, produzindo e compartilhando composições. O Alessandro Lustosa, grande compositor, tem um trabalho muito bonito e é um grande poeta. No disco 'Universo para Leo' tem um poema dele que eu musiquei, chamado 'Star no céu', e tem uma música minha que ele poemou, chamada 'Júbilo'. Ele ainda assina 'Inominável' neste disco, uma música feita a cinco mãos. Ele é um cara muito produtivo, tem centenas de canções e não pára de compor. Sua esposa, Ana Flávia Garcia, tem também um trabalho incrível na música, no circo e no teatro. O Tiago Gasta, com um trabalho muito consistente, poeta, compositor, tem um disco lançado chamado 'Prole Fera' que vale a pena conferir. 'Piano sem dó' e 'Inominável' foram parcerias com o Tiago. Além desses, tem o Luciano de Sá, May Bucar, Carlos Soares, Ricardo Ribeiro, outro grande compositor. Todos são muito bons. A gente se encontra, e quase sempre sai uma canção nova. Sempre com um cuidado com as letras, harmonias e melodias, sempre procurando um caminho pouco explorado pela composição popular. Sempre acreditando que quando não podemos mais nos calar, temos de nos expressar por meio da música, de forma honesta, sem forçar um mercado. A expressão tem motivos: existir e ter relevância para criar nosso espaço. Temos muito o que dizer.

Você se acha primeiro compositor que cantor?
Certamente. Aliás, ser compositor é o que me credencia a cantar. Já me preocupei muito com essa coisa da voz, mas na realidade eu nunca estudei e não domino nenhuma técnica. Eu era muito sistemático com meu canto, mas depois me liberei para essa tarefa. Mas eu penso, sim, em compor músicas que exijam um trabalho vocal mais elaborado e que me impulsionem a estudar. Gosto de desafios. Tenho pavor de me tornar repetitivo. Na música, desafios são matéria-prima do meu trabalho. Buscar esses desafios, para o meu processo é essencial.

Como seu disco tem sido recebido?
As pessoas elogiam bastante a produção do disco. É sempre a primeira impressão. Gostam muito também da participação da Ellen Oléria, costumam dizer que o repertório é diferente do que tem rolado em Brasília (e, sem nenhum risco de prepotência, gosto muito de ouvir isso) e gostam dos textos do encarte. Fora isso, ele ainda não chegou à nenhuma mídia. Estou começando a divulgá-lo. Já estou com uma banda ensaiada, pronta para o ataque, procurando um produtor, alô produtores!!! Creio que terei um novo feedback sobre o disco agora, tendo a honra de estar aqui no Eu Ovo. Aliás, obrigado pela oportunidade. Sou frequentador assíduo do blog.
Esse disco é de música pop, apesar de minhas canções quase não conterem refrões. Ele também dialoga com o rock e a música brasileira dita popular. Gostaria muito de receber os comentários dos leitores. Você que baixa, por favor comente. Essa é uma forma de agradecer pelo trabalho do Eu Ovo.

Foram muitas participações especiais no seu disco?
Foram participações mais especiais do que eu poderia imaginar. A começar pela Ellen Oléria, que é uma artista sensacional, generosa, que emprestou todo seu talento para enriquecer o disco. Tenho muito orgulho. Para mim, a música de Brasília está muito bem representada por ela. Cetro e coroa para Ellen. Também tem os baixos do André Vasconcellos, que tem uma sacação de música popular impressionante, entendeu tudo rapidinho. Tiago Rosback, monstro da bateria, Dillo Daraujo nas guitarras, teclados e diegeses, Leander Motta, na percussão, Cristiano Crispis na gaita, Moisés Alves, trompete, Ademir Junior, sax, Marcos Farias, acordeon, Dudu Maia, bandolim. Uma constelação e tanto para o Universo Para Leo. Sou muito grato por esse time de primeira. Aprendi demais com todos eles.
Além disso, minha turma também participou, fazendo um coro na última música: Haila Ticiany, May Bucar, Tiago Gasta, Alessandro Lustosa e Ana Flávia Garcia.

Quem produziu o disco? Como foi esse processo???
O disco foi produzido pelo Dillo Daraujo, um cara mega talentoso e mega profissional. Ele simplesmente foi essencial em todo o processo, assim como o Marcos Pagani, co-produtor, que acreditou no trabalho e apostou suas fichas nele. Primeiro entramos no estúdio com uma banda base, gravamos 13 canções, que era o material da pré-produção. A partir daí fomos criando os arranjos de base. Em seguida, gravamos a bateria do disco todo. Depois, o áudio foi enviado para o André, no Rio, para a gravação dos baixos. Depois, gravei todos os violões. Foi quando fizemos, eu e Dillo o restante dos arranjos, e os outros instrumentos foram colocados, finalizando com a voz.
Cortamos duas canções que consideramos um pouco fora do contexto do álbum e fechamos em 11. A escolha do repertório contempla todas as fases da minha jornada como compositor. Portanto tem músicas ali com mais de 15 anos de idade. Apesar de ser meu primeiro disco, é como se fosse uma coletânea de várias fases.

Como você vê essa questão de free-downloads?
Não creio que tenho alguma novidade para acrescentar a este importante tópico. Fico o tempo todo tentando imaginar uma forma do músico inovar em sua interação com o mundo, utilizando o download gratuito como ferramenta. A única coisa que sei é que é um processo que não tem mais volta, temos que conviver com download de músicas, e acho isso ótimo. Já sabemos que para os artistas de pouca visibilidade é de suma importância. Quanto aos consagrados, não precisam disso pra viver. Nunca precisaram. Eu, que me valho da internet para trabalhar, gostaria que o mundo inteiro baixasse meu disco de graça.
Tem muita gente achando que pode voltar no tempo e defendendo o fim dos downloads gratuitos. Outros tantos confundem compartilhamento com pirataria, não procuram se informar, ou não querem, enfim. Eu entendo que o jabá é algo muito mais imundo e devastador do que o compartilhamento de música pela internet. O jabá é responsável pelo enfraquecimento de toda uma enorme produção de qualidade em favor da música de massa, ou seja, o Brasil inteiro se empobrece culturalmente e não vejo ninguém combatendo isso! Falta discernir quem é o verdadeiro inimigo da cultura. E está na cara.

2011 Universo para Leo

1. Cavernas
2. Marcas (com Ellen Oléria)
3. O Trem
4. Frente fria, verso quente
5. Piano sem dó
6. Júbilo
7. Mensageiro
8. dEUs
9. Nunca mesmo
10. Star no céu
11. Inominável (com Tiago Gasta)

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11.20.2011

FAGNER E OS CIDADÕES INSTIGADORES



Apesar de não ter participado da psicodelia nordestina, muitas canções clássicas de Fagner têm a participação especialíssima de Robertinho do Recife, numa guitarrinha matadora – tão característica nesse movimento nordestino.

Mas Fagner seguiu paralelamente, também flertando com o ‘rockenrou’, quando gravou com o Vímana, no disco ‘Ave Noturna’ de 1975, além da colaboração com Robertinho. O bardo cearense, como é conhecido, também gravou com Cirino (o primeiro compacto de 1971), Ney Matogrosso, Paco de Lucia, Mercedes Soza e até com o “Galinho de Quintino”, o Zico, sem falar na recente parceria com Zeca Baleiro.



Seria fácil supor que uma união com a banda Cidadão Instigado – do também cearense Fernando Catatau – já deveria ter acontecido. Mas esse encontro só foi possível durante os dois espetáculos do Sesc-SP. As canções de Fagner casaram perfeitamente com a melódica guitarra de Catatau – que remete ao famoso fraseado dos clássicos com Robertinho do Recife.

Quem foi no show pôde perceber isso... E melhor de tudo, muitos foram apresentados ao som da trupe de Catatau nesses espetáculos únicos – uma vez que a maioria do público foi para assistir o Fagner. Para todos os que já conheciam a banda, a oportunidade foi de presenciar a química incrível entre dois cearenses.



O Cidadão Instigado abriu o show com uma versão energética de ‘Cinza’, do próprio Fagner, gravada no disco ‘Óros’ de 1977. A partir de então, a banda convida Fagner para o palco e juntos tocam uma seleção de grandes sucessos, cantados em uníssono pela platéia – entre eles ‘Frenesi’, ‘Canteiros’, ‘Cavalo ferro’, ‘Cebola cortada’, ‘Noturno’, ‘Deslizes’, ‘Eternas ondas’, ‘Asa partida’ e ‘Fracassos’, e isso só para finalizar a primeira parte do show.

Depois Catatau e Cia deixaram Fagner no palco para mais outra seleção de sucessos somente em voz e violão – ‘Quem me levará’, ‘Traduzir-se’, ‘Mucuripe’, ‘Guerreiro menino’, ‘Borbulhas de amor’, ‘Eu canto’ e sobrou espaço até para ‘Paralelas’ de Belchior. A banda também tocou com Fagner em ‘Revelação’, ‘Espumas ao vento’, ‘Cartaz’ e uma canção inédita de Fagner composta em parceria com Zeca Baleiro, ‘Toda luz guia’. No final ainda tocaram, juntos, ‘Lá fora tem’ e ‘Deus é uma viagem’ do Cidadão Instigado.



Com o advento do youtube – e também dos celulares e câmeras mais acessíveis – é possível assistir ao show quase na íntegra, e também dessa forma copiar as músicas diretamente dos respectivos vídeos na internet. Que é o caso desse arquivo digital.

Só não dá para precisar com certeza que foi essa a ordem das canções – mas também considerando os dois dias de shows, fica impossível definir o setlist. Quem souber dessa lista, que fale nos comentários... Todos nós agradecemos...



Resta apenas a torcida para um próximo disco do Fagner produzido por Catatau, uma participação do bardo no novo disco do Cidadão, assim como um disco ao vivo com essa união inacreditável – que seja numa melhor qualidade...

2011 Cidadão Instigado & Fagner ao Vivo no Sesc

1. Cinza
2. Frenesi
3. Canteiros
4. Cavalo ferro
5. Cebola cortada
6. Noturno
7. Deslizes
8. Eternas ondas
9. Toda luz guia
10. Asa partida
11. Fracassos
12. Quem me levará
13. Borbulhas de amor
14. Traduzir-se/ Mucuripe/ Guerreiro menino
15. Paralelas/ Eu canto
16. Jura secreta/ Revelação/ Espumas ao vento
17. Cartaz
18. Lá fora tem
19. Deus é uma viagem

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11.13.2011

O SATANIQUE LHE DESEJA UMA PÉSSIMA VIAGEM

A banda ‘Satanique Samba Trio’ lançou o segundo disco da trilogia ‘Bad Trip Simulator’, com o inusitado título de volume #1. Isto mesmo... O segundo volume dessa trilogia não segue a ordem numérica, uma vez que a volume #2 havia sido foi lançado antes que o volume #1, no ano passado. Numa banda com esse nome, a ordem natural não passa de uma convenção ultrapassada.

Como sempre, as músicas do ‘Satanique Samba Trio’ ainda têm títulos sugestivos como ‘Splatter gore finesse’, ‘We have obitum’, ‘Afro-sinistro’ e ‘Piece for throat clearing and some latino drum (peça para pigarro e conga)’. A canção ‘Banzo bonanza’ pode-se dizer que é o mais próximo que a banda pode chegar da música de fácil assimilação, nesse caso um chorinho.

Nos shows, a estranheza continua, assim como também o mau humor característico de Munha, que não permite nenhum tipo de demonstração de alegria durante os espetáculos, nem mesmo durante essa entrevista.

Esse disco – ‘Bad Trip Simulator #1’ - foi lançado como parte de uma trilogia?

Sim, é a segunda parte da trilogia que será finalizada pelo 'Bad Trip Simulator #3', a ser lançado ano que vem ou o mais rápido possível.

Porque é que a numeração não segue uma ordem natural?

Porque deveria?

Mas porque o ‘Bad Trip Simulator #2’ veio antes do ‘Bad Trip Simulator #1’?

Se estamos tentando perverter as coisas, que comecemos pelas fáceis. O que esperariam da gente, de qualquer maneira?

Podemos esperar a conclusão da suíte ‘Badtriptronics’?

Não se trata exatamente de uma suíte, mas se vamos mesmo usar termos técnicos da música erudita, eu prefiro chamar os ‘Badtriptronics’ de "bagatelas", músicas curtas, informais e despretensiosas. No nosso caso não tão despretensiosas assim, obviamente. Eu gostaria, inclusive, de aproveitar esta oportunidade para recomendar as seis bagatelas de Gyorgy Ligeti a todos os maconheiros que estiverem lendo esta entrevista.

Como foram as gravações desse disco? Participações especiais de alguém? Ou você gravaram os três discos juntos?

Gravações turbulentas, como de costume. Acho que é o preço que pagamos por tocar em uma banda chamada ‘Satanique Samba Trio’. E é bem estranho você perguntar sobre as participações especiais, por que acabei de comentar com um amigo meu que os músicos convidados ajudaram a dissipar o clima pesado que eventualmente tomou conta do estúdio. Se não fosse a influência positiva desta juventude de boa índole, algum membro mais frouxo da banda provavelmente teria desistido antes de finalizarmos a porra toda. Dando nome aos bois, eu diria que as participações mais significativas foram do DJ Cochlar e Ivan Bicudo nos teclados, Pedro Vasconcelos no cavaco de ‘Banzo bonanza’, Eduardo Santana e Marcelo Vargues nos trompetes e Flávio Rubens em uma caralhada de instrumentos. Não obstante, o disco foi um parto. Estou certo de que o próximo capítulo da trilogia vai ser também. Não é fácil ser babaca.

Vocês fizeram o lançamento do disco no Sesc em São Paulo... Como foi a recepção na capital paulista?

A mesma de sempre: ninguém sabe quando aplaudir, alguns riem, outros vão embora, poucos realmente se interessam... Mas os shows estão sempre cheios e vendemos bem. Isso deve significar algo. Só não sei exatamente o quê...

Quando é que vocês vão tocar em trio elétrico novamente? Como é que foi essa experiência? Como as pessoas reagiram no dia?

Creio que voltaremos às ruas com o ‘Satanique Samba Trio’ elétrico em 2012. Queremos repetir a dose, já que fomos surpreendemente bem recebidos de uma forma geral, principalmente em frente a igrejas, templos evangélicos e escolas primárias. Sinto que a conclusão deste estudo antropológico é algo que devemos à comunidade.

Só fiquei curioso com o significado da canção ‘E.F.M-M in concert’?

E.F.M-M é a sigla oficial para "Estrada de Ferro Madeira-Mamoré". Os mais superticiosos a conhecem como "A Ferrovia do Diabo" e os mais estudiosos a conhecem como uma tentativa falida de ligação entre duas áreas do território de Rondônia durante o ciclo da borracha. Milhares de trabalhadores morreram durante sua construção e ela nunca chegou a funcionar direito. É um caso fascinante de empreeendedorismo estabanado, morte e fracasso. Me espanta que um tema tão fértil em tragédia e drama tenha sido praticamente ignorado pelos cantores e cantoras ecléticos de nosso país.

2011 Bad Trip Simulator #1

1. Banzo bonanza
2. Badtriptronics #12
3. Vermizelas
4. E.F.M-M in concert
5. Dizem morte
6. Badtriptronics #10
7. Afro-sinistro
8. Piece for throat clearing and some latino drum (peça para pigarro e conga)
9. Splatter gore finesse
10. Badtriptronics #11
11. Diabolyn (original remix)
12. We have obitum
13. Badtriptronics #6
14. Badtriptronics #2
15.

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11.06.2011

UM PASSEIO DE VERÃO COM A BANDA EDDIE

Fábio Trummer jogou na rede o novo disco da banda Eddie, que hoje tem os irmãos Meira – Robi no baixo e Kiko na bateria –, Andret nos teclados e trumpete, Alexandre Urêa na percussão e dividindo a voz nas canções com o Trummer, sempre nas guitarras.

Trummer continua com sua voz grave e quase rouca como um Serge Gainsbourg de Pernambuco num canto quase falado como um Gil Scott-Heron branquelo ou até um Leonard Cohen etc e tal.

O disco é um passeio delicado e sincero pelas belas canções de Trummer, que junto com Júnio Barreto é um dos grandes compositores dessa geração. O disco abre com a energética ‘Delírios espaciais’ e segue com a parceria com Otto, a singular ‘O saldo da Glória’.

Todas as faixas trazem a marca autoral da banda Eddie, que chega ao quinto álbum, e a balada ‘Tanta coisa na vida’ não foge à regra. ‘Veraneio’ é possivelmente o grande hit do disco e com toda certeza vai fazer todo mundo cantar em uníssono sobre “drinks de frutas com nomes originais”.

‘Ela vai dançar’, parceria com Lirinha, é outra balada no melhor estilo característico Eddie. ‘Parque de diversão’ tem participação de Erasto Vasconcelos e é mais um exemplar da versatilidade da banda Eddie. Em ‘Você quer ir frevar’, Trummer exercita a poesia para descrever uma tarde carnavalesca na capital pernambucana.

Ao vivo, o Eddie é bem rock. Mas também é frevo, maracatu e tudo mais quanto for possível misturar. ‘Casa de marimbondo’ é uma dessas canções com pegada mais roqueira, que faria qualquer defunto sair pogando no meio do show. As duas útilmas faixas são remixes de Yellow Pi com ‘Glória dub’ e DJ Dolores com uma versão electro-kuduro da faixa de abertura.

O disco ‘Veraneio’ é mais um grande álbum desse ano e um digno exemplar na discografia imaculada da banda Eddie. Um disco coeso e bem produzido.

Pra quem começou sentindo ‘Falta do sol’... Tardou, mas chegou o ‘Veraneio’...

2011 Veraneio

1. Delírios espaciais
2. O saldo da Glória
3. Tanta coisa na vida
4. Veraneio
5. Intervalos
6. Ela vai dançar
7. Parque de diversão
8. Você quer ir frevar
9. Casa de marimbondo
10. Glória dub
11. Delírios

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10.30.2011

LET'S PUT SOME XOTE INNA REGGAE


Quando lançou o primeiro disco solo, ‘Bambas e Biritas Vol. 1’, BiD já tinha a intenção de lançar um segundo volume, mas demorou um bocado para chegar esse dia. Aqui mesmo no blog, cansei de responder – via e-mail ou comentários – “que infelizmente não havia previsão para o lançamento de algum volume 2 do Bambas e Biritas”. Isso foi até ontem…

Desde agosto, BiD vem alardeando o lançamento desse próximo volume, o ‘Bambas Dois’, como foi chamado essa nova reunião de bambas e novas biritagens do produtor musical. Ele conta que já tinha idéia de gravar o disco dois na Jamaica, mas somente na ilha do reggae, foi que percebeu a similaridade entre os ritmos brasileiros e jamaicanos e decidiu o caminho que o disco iria seguir.

Reza a lenda que foi Gilberto Gil quem mostrou ao Gonzagão o reggae de Bob Marley e este logo respondeu que aquilo era um xote safado, e que só faltava um triângulo e uma zabumba. Pois foi isso que o BiD fez. Colocar o tempero dos ritmos do nordeste junto com os ritmos jamaicanos. Nesse album, BiD misturou reggae com xote, baião, maracatu e até arrasta-pé.

Gravado na ilha e com inúmeras participações especiais de algumas lendas jamaicanas como Ernest Ranglin, Luciano e da classica banda de ska, ‘The Heptones’, abrindo o disco com ‘Music for all’, que já no título remete ao termo atribuido “errôneamente” como a origem do forró (o termo correto é forróbodó).

Em ‘Little Johnny’, BiD reencontra Chico César – de quem havia produzido o ultimo album, ‘Francisco, Frevo y Forró’ – e ainda Jah Marcus, além das cantoras brasileiras Thalma de Freitas, Anelis Assumpção e CéU, como as onipresentes ‘Negresko Sis’, embelezando o refrão “Johan san, little John, Joãzinho, São João pequenininho cabe aqui na minha mão”.

Queen Ifrica participa de ‘Hapiness is all in your hands’, com uma levada bem rocksteady, mas também canta na jazzística ‘Forever you are’, que funciona como um “bocado de açucar na sua tigela” – uma ode à Nina Simone. Em ‘Brasil (Little Sunday)’ você curte o balanço de um xote danado na sanfona de Dominguinhos e na percussão de Zé Pitoco (triângulo e zabumba), acrescidos de Kymani Marley, carregando toda a herança genétic a do reggae no timbre inconfundível da voz do Bob-pai. Você vai sorrir sozinho de alegria após ouvir essa faixa… :-)

Siba toca viola e rabeca em ‘We put the M inna music’ – também com Tony Rebel – e ‘Leha Dodi’ – também com Oku Onuora e Karina Buhr, que por sua vez também gravou ‘World cry (Al Fayah Mix)’, também com Jesse Royal e Gustah. ‘Children of the future’ tem participação de U-Roy. Já ‘Chiquinha Hey’ é uma parceria de BiD com Arnaldo Antunes e Betão Aguiar e conta com as vozes de Luiz Melodia e Anelis Assumpção, que também entra no coro junto com as irmãs Céu e Thalma de Freitas, na banda de duas partes negras e uma branca…

A única música não-autoral, é uma das mais belas canções de amor já composta, por ninguém menos que George Harrison, ‘Something’, cantada por Luciano e com a guitarra delicada de Ernest Ranglin. ‘Somtehing is wrong’, que apesar do nome não é mais uma versão da música dos Beatles, mas sim é uma composição de BiD com I-Wayne, e também tem Siba na viola.

‘Only Jah love (Raggatu)’ é a faixa de trabalho e já ganhou um clipe inspirador. A música conta com a participação de Sizzla Kalonji, Bi Ribeiro e Gustah. O disco ainda tem várias grandes participações como Lúcio Maia, Dengue, Pupillo, Daniel Ganjaman, Bruno Buarque, Gilmar Bola 8, Tiquinho e Leando Joaquim, entre tantos outros nomes.

Demorou, mas o BiD nos presenteou com um grande petardo, que pode muito bem figurar em qualquer lista de melhores do ano.


BAMBAS DOIS_Ep.00_"Sao Paulo - Kingston"


BAMBAS DOIS_Ep.01_Sizzla "The Music Construktah"


BAMBAS DOIS_Ep.02_Luciano "Acoustic Inna de Yard"


BAMBAS DOIS_Ep.03_Queen Ifrica "Conscious Poetry"


BAMBAS DOIS_Ep.04_I Wayne "A Kingston Ride"


BAMBAS DOIS_Ep.05_The Heptones "Happy Tunes"


BAMBAS DOIS_Ep.06_Kymani Marley "Inna Xote Style"



2011 Bambas Dois (Brasil-Jamaica)

1. Music for all (with The Heptones)
2. Little Johnny (with Chico Cesar & Jah Marcus)
3. Happiness is all in your hands (with Queen Ifrica)
4. Brasil (Little Sunday) (with Kymani Marley & Dominguinhos)
5. We put the 'M' inna music (with Tony Rebel & Siba)
6. Children of the future (with U-Roy)
7. Chiquinha Hey (with Luiz Melodia & Anelis Assumpção + Negresko Sis)
8. Leha Dodi (Sheeba) (with Oku Onuora & Karina Buhr)
9. Something (with Luciano & Ernest Ranglin)
10. World cry (Al Fayah Mix) (with Karina Buhr & Jesse Royal & Gustah)
11. Only Jah love (Raggatu) (with Sizzla & Bi Ribeiro & Gustah)
12. Forever you are (with Queen Ifrica & Joey Altruda)
13. Something is wrong (with I-Wayne & Siba)
14. Nnyahbingui (Medley) (with Priest Tiger & Priest Kassa & Dada Yute & Prophet Marvin & Papete)

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CLIPE Only Jah love (Raggatu)



Baixar mais um bônus track: Only Jah Love (Felipe Wrechiski Dub Mix)
(clicar com o botão direito em salvar destino como etc e tal)

10.23.2011

DISCOS SÃO PARA OUVIR E DEIXAR BAIXAR

Nessa semana o cantor Wado anunciou, em seu twitter, que o seu disco ‘Samba 808’ estava pronto e sendo lançado apenas pela internet.

Na apresentação do disco, ele explica os motivos, entre eles o desinteresse das gravadoras e selos (que falharam em oferecer uma contrapartida interessante) e dos altos custos de produção de um CD físico (talvez exista para os shows – disponível praqueles que prestigiarem os espetáculos).

A carreira desse catarinense, radicado em Alagoas, é cheia de belas composições e álbuns quase esquecidos pela “grande” mídia. Com uma banda afiadíssima, a bateria de Rodrigo Peixe, Pedro Ivo Euzébio nas programações, Bruno Rodrigues no baixo, Vitor Peixoto na guitarra e Dinho Zampier nos teclados e também parceiro nas composições.

As participações especiais são muitas, além com os parceiros mais freqüentes como Alvinho Lancellotti e Momo, além de Marcelo Camelo junto com Mallu Magalhães, Curumin e Fernando Anitelli, sem falar nos novos parceiros e co-autores Fábio Góes, André Abujamra, Zeca Baleiro e Chico César.

Este álbum segue o caminho natural traçado pelo próprio Wado, de uma aproximação grande com o eletrônico nas composições, que só vem crescendo desde ‘Terceiro Mundo Festivo’ e ‘Atlântico Negro’. Destaque para ‘Esqueleto’ com participação de Curumin, lançada originalmente pela banda ‘Sonic Jr.’, ‘Jornada’ com Fábio Góes e ‘Beira mar’ com Abujanra e Lancelotti.

Wado usa alguns ditados popularizados pelos bailões de funk-carioca, como “elas estão descontroladas”, para criar uma composição única e original que denota o brilhantismo da micro-tonalidade desse ritmo tão discriminado. Levando a crer, que o principal problema com esse gênero, é na verdade a letra de certa forma horripilante e grotesca, que a maioria utiliza.

Nas letras, Wado continua um poeta que sabe muito bem brincar com as palavras ao mesmo tempo em que faz belas melodias como em ‘Portas são para conter ou deixar passar’. Dos antigos parceiros Momo e Lancelotti, gravou a bela ‘Recompensa’, que encaixa tão perfeitamente no repertório do artista.

Wado segue no bom caminho musical e mercadológico ao se manter como artista que é o próprio selo e também a própria gravadora, no melhor sentido do “do it yourself”.

De que outra forma? Você que nunca ouviu poderia conhecer as canções do Wado?



2011 Samba 808

1. Si próprio (& Zeca Baleiro)
2. Esqueleto (& Curumin)
3. Surdos de escola de samba (& Chico César)
4. Com a ponta dos dedos (& Marcelo Camelo & Mallu Magalhães)
5. Portas são para conter ou deixar passar (& Fernando Anitelli)
6. Recompensa
7. Não para
8. Vai ver
9. Jornada (& Fábio Góes)
10. Beira mar (& André Abujamra & Alvinho Lancelotti)

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10.16.2011

MAIS PERTO AGORA QUE LONGE DE ONDE ESTARIA SE NÃO ESTIVESSE

O disco novo de Karina Buhr, ‘Longe de Onde’, tem uma banda de respeito centrada na voz de Buhr, baixo de Mau, bateria de Bruno Buarque, teclados de André Lima, trompete de Guizado e guitarras de Edgard Scandurra e Fernando Catatau.

O álbum abre com uma paulada na orelha ‘Cara palavra’, que tem poesia concreta que e é quase um punk-rock-hardcore. Depois segue a singela parceria de Catatau, Buhr, Buarque e Mau, ‘A pessoa morre’, com a característica guitarrinha prog-brega de Catatau.

O quase calipso ‘Não me ame tanto’ tem auxílio luxuoso de Guizado no trompete e uma letra deliciosamente com duplo sentido. Em ‘Guitarristas de Copacabana’ há o duelo das guitarras de Scandurra e Catatau. ‘Sem fazer idéia’ também tem o trompete de Guizado, mas é a letra de Karina que chama atenção à sua capacidade de criar imagens poéticas e oníricas.

‘Pra ser romântica’ também tem a guitarra de Catatau e sua forte influência, nessa bela balada rockenrou. ‘Cadáver’ é o reggae do disco. ‘The war’s dancing floor’ tem forte poesia em inglês e tem na sequência ‘Copo de veneno’, que pode até se considerada como uma quase continuação.

Em ‘Amor brando’, Karina canta acompanhada apenas da guitarra de Scandurra, numa canção de singela beleza. O disco encerra com ‘Não precisa me procurar’, composição característica de Karina Buhr, com final apoteótico calcado na guitarra de Scandurra e trompete de Guizado.

O certo é que esse álbum é extremamente autoral. O segundo solo de Karina Buhr é um belo exemplar da nova música popular brasileira. Imperdível em qualquer estante.

2011 Longe de Onde

1. Cara palavra
2. A pessoa morre
3. Não me ame tanto
4. Guitarristas de Copacabana
5. Sem fazer idéia
6. Pra ser romântica
7. Cadáver
8. The war’s dancing floor
9. Copo de veneno
10. Amor brando
11. Não precisa me procurar

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10.09.2011

QUANDO SETEMBRO CHEGAR, ESPERE QUE EM OUTUBRO VIRÁ

Já é fato consumado que Junio Barreto é um dos melhores compositores de sua geração. Seu segundo disco veio para comprovar esse fato e calar a boca dos possíveis detratores, que provavelmente nunca irão aparecer.

O álbum abre com ‘Serenada solidão’, um sambinha alegre e feliz com parceria do piano de Vitor Araújo e da guitarra de Gustavo Ruiz. A faixa-título, ‘Setembro’, é uma balada psicodélica com o teclado de Chiquinho do ‘Mombojó’ e da guitarra de Junior Boca, além da letra onírica de Barreto.

A marchinha ‘Jardim Imperial’ é uma canção melancólica, mas é precedida por ‘Rios de passar’, que tem os trombones de Misael França e Zilmar Medeiros, além dos vocais de CéU, Marina de la Riva e Luisa Maita. ‘Noturna’ é outra bela balada, com participação da Orquestra Experimental de Cordas e de Vitor Araújo.

‘Fineza’ é outro samba, mas com participação de Dudu Tsuda nos teclados e Seu Jorge no violão. Já ‘Gafieira da maré’ é um típico exemplo das composições praieiras de Junio Barreto. ‘Passione’, composta em parceria com Jorge Du Peixe, tem uma levada surf-rock e também conta com os teclados de Chiquinho, acrescida das guitarras de Felipe S.

A faixa instrumental, ‘Vamos abraçar o sol’, composta em parceria com Pupillo, tem um balanço contagiante de samba-rock e pode ser cantarolada em uníssono no melhor estilo la-ra-lás ou pa-pa-pás. O petardo encerra com ‘Alento da alagoinha’, com apenas Vitor Araujo no piano e uma bateria minimalista de Pupillo.

Todo o álbum tem os gêmeos da ‘Nação Zumbi’ no baixo e bateria, respectivamente Dengue e Pupillo, que também assinou a produção das faixas. A espera valeu a pena – o último disco de Barreto foi sua estréia, ha sete anos – já que ‘Setembro’ é um dos grandes lançamentos de 2011 e confirma o talento de Barreto como compositor e sua alcunha de Caymmi de Caruaru.

2011 Setembro

1. Serenada solidão
2. Setembro
3. Jardim Imperial
4. Rios de passar
5. Noturna
6. Fineza
7. Gafieira da maré
8. Passione
9. Vamos abraçar o sol
10. Alento da alagoinha

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10.02.2011

AFINAL DE CONTAS, QUEM É QUE É MARGINAL?

Qual é a cara dos MarginalS? Tem a cara do trio Thiago França, Marcelo Cabral e Anthony Gordin – sopros, baixo e bateria, respectivamente.

Juntos, França, Cabral e Gordin, formam o MarginalS, e fazem um som instrumental que dificilmente se encaixa em qualquer estereotipo ou rótulo. É um som que muda a cada dia, porque é totalmente improvisado.

A banda lançou um disco pela internet no momento em que comemorava o primeiro aniversário como grupo e o Thiago França conversou sobre esse álbum.



Como é o som dos MarginalS?

Nosso som é 100% improvisado, ou seja, cada show é único, tudo é espontâneo e instantâneo, mas o MarginalS tem uma cara, um jeitão, e uma sonoridade. A gente passeia pelo caos e pelo lírico, por grooves pesados e abstrações musicais. O grande lance é o encontro dos três, eu Cabral e Tony, cada um com a sua história e fazendo um som junto. Eu, por exemplo, tô sempre pensando em caminhos alternativos como solista, o saxofone já foi explorado tanto que parece que não há mais o que fazer. Tenho usado alguns pedais de efeito (delay, octaver, phaser…) pra criar texturas e situações, montar acordes, distorcer o som do instrumento, dá pra sacar bem isso no disco. Ou às vezes, simplesmente me jogar na fogueira sem saber o que vai sair e criar em cima disso. O disco não teve pós-produção, todos os efeitos rolam na hora mesmo, tudo ao vivo, a não ser na última faixa do disco (parte 2, parte 3), que passamos um filtro na bateria e colocamos um drive (aquele efeito meio rachado) no baixo acústico e no EWI (que é uma espécie de saxofone MIDI, tipo um teclado), mas ficou sutil e natural, muita gente nem percebe. Daqui um ano, não sei como vai estar o som, e não importa: o mote mesmo é tocar junto, o que acontece quando nós três nos encontramos, aconteça o que acontecer, um por todos, todos por um. Estamos bem felizes de ter gravado o disco e lançado no nosso aniversário de um ano e da repercussão que está tendo.





Como nasceu o disco sem nome? Foi pensado em algum conceito?

O disco existe por ele próprio, como um retrato. Não sei se você está se referindo aos vídeos do MarginalS no youtube. Eles não tem a ver com o disco, são extratos de gravações da época que a gente tocava no +Soma. Queríamos disponibilizar alguma coisa, mas um trecho sozinho não tem o mesmo sentido que no set completo (geralmente com 1 hora de duração), pois como a gente toca sem parar, o que vem antes e depois é essencial, muda completamente a impressão daquele som. Daí veio a idéia dos vídeos, que no caso, a música entra quase que como trilha sonora e ganha vida própria, independente do todo de onde ela surgiu.



Porque MarginalS e não Marginais? O que significa o S maiúsculo?

Não foi uma escolha muito pensada… aliás, nada do que a gente faz é, é tudo meio na base da intuição. Depois de uns meses de resistência minha, começamos a escolher o nome. No início eu não queria, por mim seria só o nome dos três. Mas fomos percebendo que nasceu ali uma coisa nova e única, era mais que um encontro casual. Quando o Cabral apareceu com o nome, eu e o Tony gostamos de cara, soou bem e pareceu correto pra proposta do som. O "S" maiúsculo foi sem querer também. Quando eu estava criando a home no facebook, já existia um "Marginals" e o sistema não aceitava. Coloquei o "S" e rolou. A opção de manter assim foi estética, o nome virou uma espécie de logo.



Você acha que existe um cenário de música instrumental hoje? Onde o MarginalS se encaixa?

Cena ou cenário, acho que é a mesma coisa, mas se usa mais "cena"… Tenho ouvido muito que o MarginalS é "meio jazz mas com uma pegada de rock". Gosto disso. Não consigo enxergar exatamente uma cena instrumental X ou Y, mas, fazendo um recorte com "pegada rock", uns mais, outros menos, eu curto e acho que tem a ver com a gente o Burro Morto, Macaco Bong, M.Takara3, Hurtmold, Guizado e o PsychoJazz.





Pirataria X acessibilidade?

A gente é completamente a favor de disponibilizar tudo, mas nessa questão que você levantou, baixar um disco é só a ponta do iceberg. Historicamente, tirando alguns medalhões como Ivete Sangalo, Roberto Carlos, Xitãozinho e Xororó, entre outros desse quilate, artista nenhum ganhou dinheiro com venda de disco, o disco sempre pertenceu às gravadoras. Hoje, o disco é propriedade do artista, somos nós que decidimos o destino dele. Daí, você vê artistas como o MarginalS, o Metá Metá (que tem eu, Kiko Dinucci e Juçara Marçal), Criolo, Romulo Fróes, entre muitos outros, disponibilizando seus discos pra quem quiser baixar, enquanto outros artistas tão fazendo de tudo pra impedir isso, vide o caso da Ministra Ana de Hollanda. Ela tem os motivos dela. Independente duns trocados a mais ou a menos que viriam pros nossos bolsos, o acesso leva e traz muita coisa pra muita gente. Funciona quase que como um acordo de cavalheiros, você baixa o meu, eu baixo o seu, e tá tudo certo, todo mundo quer ouvir e ser ouvido. No lançamento do CD do Metá Metá em Curitiba tinha gente cantando todas as músicas do disco, e curiosamente, essas são as pessoas que compram o disco, elas valorizam o artista. Num texto de 25 anos atrás, O Hermano Vianna contava que o dono dum selo de música africana tentou lançar o Fela Kuti aqui no Brasil nos anos 80 e nenhuma gravadora se interessou. Isso é acessibilidade, você ter liberdade pra ouvir e pesquisar o que você quiser, apreciar música livremente, longe dos grilhões do jabá. 90% do que eu conheço de música africana, que é indispensável pra tudo que eu faço hoje, é graças a internet. Da mesma forma, as coisas que a gente faz chegam com muito mais rapidez ao público e com uma abrangência enorme, que é muito favorável. O cara que baixa música em casa é o mesmo cara que há um tempo atrás, copiava um vinil ou CD numa fitinha cassete. A proporção disso hoje em dia é infinitamente maior, mas esse cara só quer ouvir música. Pirataria é outra coisa... Pirata é quem lucra com essa "transação". Você não paga pro artista, você não paga o download pro dono do site, mas o provedor de acesso você paga… Vixi, que esse papo vai longe…





Não tem capa, é? ...E qual é o nome do disco?

Tem capa sim, é essa foto da gente jogando bocha, mas não tem nome. No arquivo está como (disco sem nome), talvez esse seja o nome. Na real, muita gente simplesmente diz que é o disco do MarginalS, algumas pessoas estão chamando de "o disco da bocha" - isso eu acho legal, tipo Beatles, que tem o "álbum branco", saca? Hehe... Mas a idéia por trás disso é não induzir a audição do disco, por esse mesmo motivo, as faixas também não tem nomes, apenas indicações, "prólogo", "parte 1", etc… que servem meramente pra formalizar o começo e fim de cada idéia musical que apareceu, mas, ouvindo do começo ao fim, é imperceptível. É muito comum termos feedbacks completamente diferentes do público e a gente gosta disso. Tem gente que lembra de coisas da infância; uns falam que não pensam em nada, que rola um transe; uma vez, uma amiga disse que durante um set do MarginalS teve um insight de como resolver um pepino no escritório. Isso, pra gente, é muito mais importante do que se tivesse alguém prestando atenção em escalas, harmonias, quais pedais eu uso e quando. Queremos dialogar com o nosso tempo, com a cidade e com as pessoas. Não quero ser dissecado por estudantes de música nem virar matéria de faculdade.


2011 MarginalS (Disco sem Nome) ou (Disco da Bocha)

1. Prólogo
2. Parte 1, parte 1
3. Parte 1, parte 2
4. Parte 1, parte 3
5. Parte 1, parte 4
6. Intermissão, parte 1
7. Intermissão, parte 2
8. Parte 2, parte 1
9. Parte 2, parte 2
10. Parte 2, parte 3

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