7.29.2012

TUDO PARADO NA CITY PARA OUVIR O TATÁ AEROPLANO

Tatá Aeroplano é responsável pelo som psicotropical do ‘Cérebro Eletrônico’ e pela irreverência do ‘Jumbo Elektro’, mas seu primeiro disco solo é recheado de clima retrô e arranjos folk, visto que até a capa do álbum entrega essa referência.

Nesse disco, Tatá canta e toca violão em algumas faixas, mas tem o auxílio da banda formada por Dustan Gallas, no baixo e teclados, Bruno Buarque na bateria e Junior Boca na guitarra. Mas também têm as participações mais que especiais de Leo Cavalcanti, Bárbara Eugênia, Maurício Fleury, Clayton Martin e Peri Pane.

O álbum tem letras ácidas cheias de referências atuais, como sempre fez Tatá, em suas bandas e colaborações. Como bom cronista, ele apresenta pequenos clássicos contemporâneos como ‘Night purpurina’, ‘Perigas correr’, ‘Tudo parado na city’ e ‘Machismo às avessas’.

Em ‘Par de tapas que doeu em mim’, Tatá mostra um recorte da Rua Augusta, de uma longa noite cheia de confusão e quebradeira. ‘Sartriana’ foi composta em parceria com Leo Cavalcanti e versa sobre mulheres de Jean Paul Sartre, enquanto ‘Cão sem dono’ foi baseada em filme de Beto Brant.

‘Um tempo pra nós dois’ revela um filme sobre relacionamentos amorosos e pequenos medos. ‘Uma janela aberta’ e ‘Te desejo, mas te refuto’ são duas baladas etéreas e espaciais com especial relevância aos arranjos de Dustan Gallas, bem como sua utilização do melotron, que marca o estilo pop-retrô-jovem-guarda de todo disco.

Um disco pop com letras inteligentes, pra todos aqueles que também “só jantam bem depois das 10”, disse o Aeroplano.

2012 Tatá Aeroplano

1. Sartiana
2. Perigas correr
3. Par de tapas que doeu em mim
4. Um tempo pra nós dois
5. Tudo parado na city
6. Uma janela aberta
7. Te desejo, mas te refuto
8. Machismo às avessas
9. Night purpurina
10. Cão sem dono

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7.22.2012

B. NEGÃO EM SINTONIA COM A PILANTRAGEM


O lendário segundo disco solo do B. Negão com a banda ‘Os Seletores de Frequência’ quase fez parte da mitologia da música brasileira. O fato é que o processo de gravação foi a conta-gotas e como uma formiguinha operária, B. Negão não parou de fazer shows, discotecagens e participações em discos de outros colegas artistas.

O álbum chega como um alívio aos ouvidos dos viciados em grooves pesados. ‘Alteração (EA!)’ abre o disco com os metais em brasa, levando um riff suingado e funkeado. A suíte ‘Panela de pressão’ dá sequência ao groove com o samba-rock ‘O mundo’ e o reggae em ‘Reação’, que havia saído no ano anterior como teaser desse trabalho atual.

Dando continuidade ao peso funk do disco B. Negão apresenta muito balanço como em ‘Proceder/ Caminhar’, ‘Vamo!’, ‘Essa é pra tocar no baile’ e ‘Na tranquila’. O bom e velho rockenrou também está presente em ‘Subconsciente’ e o afrobeat carioca de ‘Chega pra somar no groove’ e ‘Bass do tambô’.

O encerramento acontece com a faixa que dá nome ao álbum, um dub cheio de boas intenções. ‘Sintoniza Lá’ é um segundo ato do ‘Enxugando Gelo’, que demonstra a vocação do B. Negão de ser um dos precursores dessa nova geração, que reapresenta uma nova pilantragem.

2012 Sintoniza Lá

1. Alteração (EA!)
2. O mundo (panela de pressão)
3. Reação (panela II)
4. Proceder/ Caminhar
5. Vamo!
6. Essa é pra tocar no baile
7. Subconsciente
8. Na tranquila
9. Chega pra somar no groove
10. Bass do tambô
11. Sintoniza lá

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7.15.2012

PASSO LARGO PASSO CURTO PASSO LARGO



Som instrumental é o tema principal da banda ‘Passo Largo’, nascida pela necessidade do trio em tocar rock instrumental pesado e suingado. Com Marcus Moraes na guitarra, Vavá Afiouni no baixo e Thiago Cunha na bateria, eles fazem música autoral e versões instrumentais apimentadas de nomes como Led Zeppelin, Black Sabbath e Luiz Gonzaga.

A banda lança agora seu primeiro trabalho, ‘Passo Largo’, somente com composições próprias. Destacar está ou outra canção é tarefa difícil, numa obra enxuta e coesa como este álbum. O nome da banda é referência à rapidez com que o trio preparou o repertório, compondo e arranjando as canções.







2012 Passo Largo

1. Shockabillis
2. Passo largo
3. Vermelho conversível
4. A sapiência da perereca
5. Sujeiras de Angélica
6. Inominável
7. Bebe-le rios
8. Sinta a liga
9. Suspiros de Elizabeth
10. Acabou-se tudo

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7.08.2012

PINTA PELE PRETO JENIPAPO


O som da bandaJenipapoé uma mistura de influências e ritmos. Formada por Atan Pinho nos vocais, Rafael Miranda no violão e vocais, Adriano Sargaço na guitarra, Hudson Bomfim no baixo, Hermano Silva e Lieber Rodrigues nas percussões e Ytto Morais na bateria. O disco de estreia foi finalmente lançado, com produção de Alfredo Bello, o DJ Tudo.

A verdadeira ‘Mistura’ abre o álbum, com uma cuíca sem frescura de Oswaldinho da Cuíca. Uma faixa que resume o estilo da banda em poucos acordes, um verdadeiro hit de abertura de disco. ‘Na avenida’ segue a mesma pegada, com uma guitarra contrapondo a percussão, entre batuques e distorções.

O sambinha ‘Beira da praia’ segue com a voz de Ana Reis e um belo solo de tombone por Adil Silva, auxiliado com a guitarra de Sargaço. ‘Barraco de fundo’ é um samba maloqueiro com a metaleira do saxofone de Marcelo Monteiro, o trombone de Duarsen Campos e o trompete de Amilcar Rodrigues.

Em ‘Tem uma pedra’, o sintetizador de Alfredo Bello impõe um estilo próprio à essa canção singular, que ainda tem o vocal de Ellen Oléria. ‘Meu Sertão’ segue a mesma linha imposta pelo produtor e suas camadas de climas e sons. Entre tantos ritmos mostrados nas canções anteriores, faltava o forró, que veio em ‘Morena’, numa versão apressada e suingada. ‘Vive de bandeira’ traz o frevo a essa mistura.

‘Santuário’ representa a banda como ela é ao vivo. Uma canção política, que coloca em discussão a corrida imobiliária em Brasília contra a preservação do cerrado, com a construção de um bairro “ecológico”, que ironicamente fará divisa com uma terra indígena – o ‘Santuário dos Pajés’. ‘Plante uma planta’ também levanta uma questão primordial, mas de menor importância, em relação ao tema anterior. (Teoricamente, a última faixa do disco (11), mas no final tem aquele “bom e velho” silêncio de um minuto, até chegar à reprise de ‘Santuário’ – que nesse arquivo de download já está separada como faixa 12)

Interessante é a conversa que a guitarra rockeira mantém com os outros instrumentos. O que mostra que o verdadeiro mote dessa galera é o bom e velho rockenrou. ‘Jenipapo’ é uma banda que se aventurou em misturar todas as influências regionais de seus integrantes num só caldeirão de boas referências.

2012 Jenipapo

1. Mistura
2. Na avenida
3. Beira da praia
4. Barraco de fundo
5. Tem uma pedra
6. Todos os santos
7. Meu Sertão
8. Morena
9. Vive de bandeira
10. Santuário
11. Plante uma planta
12. Santuário (reprise)

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7.01.2012

A GUITARRA DIABÓLICA DE DILLO DARAUJO ou FRITO, O QUE TU FEZ? COM O MP3?

Jacaretaguá’ é um álbum de guitarrista. O terceiro de Dillo Daraujo, que toca praticamente todos instrumentos, desde a já citada guitarra, violão, baixo, acordeon, teclados, mpc, talk-box, kaos-pad e ainda leva alguma percussão em algumas faixas, sem falar nos efeitos, scratchs e na cantoria.

É um disco que desvela uma narrativa psicológica, revelando sonhos, delírios e visões. O próprio artista admite que “existe um fio condutor entre as faixas guiado pelo medo e desesperança até chegar à retomada, desaguando em ritmos, pulsos e terminando com ar de contentamento”.

O disco abre com ‘Antena de Bombril’, uma bela canção para estádios gigantes, com um final apoteótico de uma guitarra psicótica. Na sequência Dillo apresenta uma verve pop com as canções, ‘Grito na garrafa’ e ‘Novo sol’, com letra cheia de referências pop e poesia concreta, respectivamente.

As letras de Dillo versam sobre temas cotidianos e mencionam referências atuais, como twitter, coca-cola, pay-per-view e FMI. Isso sem falar nas citações, que vão desde, “ctrl+z”, “O diabo veste Prada” e “Time is on my side” dos Rolling Stones. Cada canção conta sua história e tem suas linhas melódicas muito bem definidas, como várias tramas em pedaços, que juntas formam uma única peça.

‘W Kilombola’ versa contra a globalização e o capitalismo desenfreado, além de iniciar uma suíte que se estende por ‘Em cruz ilhada’, parceria com o jornalista José Carlos Vieira, uma canção de levantar o pó das estradas, e é encerrada por ‘Jabazinho’, um verdadeiro hino “rockenrou” contra a prática ilegal do “jabá” de algumas rádios comerciais. “Frito o que você fez com a MPB”, grita o cantor.

Jacaretaguá’ pode ser um disco de guitarrista, mas tem uma mistura muito eclética de diferentes influências guitarrísticas como Jeff Beck, Ernest Ranglin, Mestre Vieira, Richie Blackmore, entre outros. O título do álbum faz uma alusão à Baixada de Jacarepaguá, com a cidade-satélite Taguatinga, do Distrito Federal, ‘Jacaretaguá’.

Há um momento de respirar na faixa instrumental que dá nome ao disco, um groove afrobeat contagiante. ‘Pesadelo master’ foi composta em parceria com outro músico brasiliense, César de Paula. Com um começo empolgante, quase discoteca, a letra se torna amarga para descrever o casamento, num encerramento climático com solo de blues.

Algumas participações especiais pontuam o álbum, como Túlio Lima na bateria, com Vinicius Correa assumindo as baquetas em uma das faixas, Igor Cabral e Dido Mariano no baixo, Richelmy Oliveira na percussão, Marcos Valadares no saxofone, Paulo Verissimo na voz e fazendo côro junto com Thais Fread e Paulo Ério. Gravado no estúdio Orbis por Igor Cabral, Felipe Araujo e Pedro Tavares. Mixado por Marcos Pagani. Com arte de Tiago Pezão.

Em ‘Plano marmita’, Dillo usa toda acidez para divisar classes sociais num apartheid social do Planalto Central, com um rock pesadão de riff pegajoso, tem ‘Baião da Penha’ do Gonzagão como música incidental. ‘Sessão de descarrego’ confirma que as tradições nordestinas estão sempre presentes na Capital da República.

Mesmo sendo uma obra enxuta, o álbum ‘Jacaretaguá’ é um disco de camadas de sons. As canções são pontuadas por momentos e climas sobrepostos, quase como uma subdivisão em cada faixa. A narrativa que permeia o disco pode ser percebida como referência à diversos clássicos contemporâneos.

‘Tupi Guaraná’ é outro rock característico de Dillo, que encerra a obra com otimismo e boas intenções, estampadas na letra “e digo adeus se acaso for embora, vou sorrindo agora até quando eu voltar”.

Jacaretaguá’ é um disco que expõe o amadurecimento de um artista, como guitarrista, compositor, arranjador e produtor. Um veículo para o dedilhado diabólico de Dillo Daraujo.

2012 Jacaretaguá

1. Antena de Bombril
2. Grito na garrafa
4. W Kilombola
5. Em cruz ilhada
6. Jabázinho
7. Jacaretaguá
8. Pesadelo máster
9. Plano marmita
10. Sessão do descarrego
11. Tupi Guaraná

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