9.29.2013

COM QUANTAS CABEÇAS SE FAZ UMA ORQUESTRA?

O que antes era 'Coutto Orchestra de Cabeça' virou apenas 'Coutto Orchestra', para apresentar o álbum de estréia, 'Eletro FUN Farra', cheio de novidades sonoras.



A banda surgiu da cabeça de Alisson Coutto, por causa dos samples e das peças fundamentais que foram se encaixando e orbitando ao redor – como Rafael Ramos (baixo e teclados), Fabinho Espinhaço (bateria) e Vinícius Bigjohn (acordeon e teclados), que junto a Alisson (trombone e samples) formam a 'Coutto Orchestra'.

O som que eles fazem mistura elementos da música latina com a do nordeste e inclui as batidas eletrônicas nesse mesmo caldeirão. O novo álbum, 'Eletro FUN Farra' foi recém-lançado e chega como uma procissão, romaria, bloco ou cortejo.

Que abre com 'Ladeira', funcionando como uma overture ou introdução ao percurso que a banda apresenta. 'Corre' vem em seguida puxando o cordão de foliões, que ainda não haviam aderido às batidas.

Depois seguem as canções com nomes de mulheres; 'Forbelle', um xote dos balcãs; 'Cordélia', um tango sensorial; 'Juanita', uma cumbia espacial; 'Flor', de volta ao leste europeu e 'Loretta e Boutique', uma milonga em xaxado.

'Routine' tem uma bela melodia para deixar qualquer um assobiando. Os barulhinhos ao fundo intrigam mais que perturbam e demonstram claramente, que a vida é cheia de ruídos sonoros.

'Quadrinharia' segue a mesma linha milongueira com xaxado e serve para dar passagem ao encerramento do 'Eletro FUN Farra', como fosse mesmo um bloco de rua, com a oração a 'Dorival Caymmi'.

Alisson Coutto conversou comigo por e-mail e respondeu algumas questões primordiais para sabermos quem é ele e o que pretende daqui pra frente.


De onde surgiu a ideia para a 'Orchestra de Cabeça'?

A 'Orchestra de Cabeça' surge no momento em que não possuia banda, apenas eu (Alisson Coutto) produzia as músicas em estúdio e junto com aparatos eletrônicos construía minha banda, minha 'Orchestra de Cabeça'.

Hoje somos um quarteto, e ao lançar o 'Eletro FUN' Farra decidimos retirar o nome “de Cabeça” e assumirmos apenas o nome 'Coutto Orchestra', pois vimos mais que nunca conseguimos sair de um projeto imaginário, hoje nos identificamos como banda, montamos nossa micro-big-band, nossa pequena Orquestra.

Como surgem as canções? O que vem primeiro, o ritmo ou a melodia?

As canções sempre surgem a partir de algum estimulo visual ou histórias que ouvimos em relatos, que se transformam muitas vezes em trilhas sonoras, outras, em canções quase sem palavras. Geralmente o conto vem antes da melodia, e quase sempre por último, mas não menos importante, o ritmo.

Nas composições da 'Orchestra' sempre buscamos fundir elementos daqui (nordestinos e prioritáriamente sergipanos) com os demais ritmos da aldeia global. Ao compor não nos preocupamos em seguir uma forma ou rítmica obrigatória, o que buscamos a risca é apenas comunicar sensações imagéticas por meio de quase nada, geralmente expressadas em melodias curtas e repetitivas em um caldeirão sonoro. A silhueta no lugar da imagem.

Vocês participaram de vários festivais e feiras musicais... Como foi a experiência?

A cada evento que temos a oportunidade de viajar, a banda consegue se renovar, oxigenar a pluralidade que buscamos no nosso som, é impressionante como em nossas viagens conseguimos (re)avaliar os elementos estéticos, sonoros, que compõem o nosso trabalho.

De onde veio o investimento para gravar os EPs? ...e este álbum? 

O investimento para este disco e os anteriores partem de recursos próprios. Através dos cachês, venda de discos, dentre outros produtos geramos os recursos para a produção do nosso material de trabalho.


Como vocês lidam com os downloads gratuitos?

Para nós que somos uma banda ainda pouco conhecida, o download gratuito é algo muito positivo e porque não dizer necessário. Disponiblizar gratuitamente para que as pessoas conheçam nosso trabalho é uma das nossas principais ferramentas de promoção que temos.

Vivemos em um local fora dos grandes circuitos e na medida que conseguimos propagar nosso som para uma quantidade mais ampla de pessoas (e isso o download gratuito permite bem) facilita nossa circulação.

Apesar de disponibilizarmos de forma gratuita para download, as pessoas sempre compram muitos discos nos shows que realizamos, isso nos faz acreditar que disponibilizar o disco para download funciona muito mais como um bom “cartão de visita” , ele ajuda a impulsionar nosso trabalho.

Vejo fortes influencias de ritmos latinos... Quem mais influenciou vocês?

Nós como músicos tivemos a oportunidade de tocar individualmente em bandas dos mais diversos estilos, o que nos possibilitou uma boa vivência e a oportunidade de apreciarmos a música global de forma ampla, especialmente a música latina.

O folclore sergipano, o forró e ritmos latinos como o tango e a cumbia, são elementos presentes em grande parte das composições do 'Eletro FUN Farra', entretanto, não fazemos esforços para que esta valorização local soe aparente, ela vem de forma natural orgânica, não há intenção de preservação, bandeira ou até mesmo resgate desta latinidade. Somos latinos de ouvidos e olhos abertos aos sons e rumores do mapa global. Isso é o que buscamos e nos influencia cada vez mais.

Quais são os planos da banda?

Após o lançamento do disco, estaremos entrando na turnê 'Eletro FUN Farra' e na produção do nosso primeiro video-clipe.

A turnê começa a partir do dia 18 de outubro, quando lançamos nosso disco em formato físico, na cidade de Aracaju e partimos inicialmente para shows em Brasília (DF), Macapá (AP), Olinda (PE) e demais regiões do Nordeste.

2013 Eletro FUN Farra

1. Ladeira
2. Corre
3. Forbelle
4. Cordélia
5. Juanita
6. Flor
7. Routine
8. Loretta e Boutique
9. Quadrinharia
10. Dorival Caymmi



9.22.2013

EU TENHO FÉ NAS GAROTAS SUECAS

Depois de uma estréia bem sucedida, a banda 'Garotas Suecas' apresenta outra obra recheada de groove, peso e maturidade.


A banda 'Garotas Suecas' não é formada por meninas do país escandinavo, muito menos somente por pessoas do sexo feminino, aliás só tem uma mulher na formação. Irina Bertolucci nos teclados e vocais, que é acompanhada por Guilherme Sal nos vocais, Fernando Freire no baixo, Nico Paolielo na bateria, e Tomaz Paolielo na guitarra.

Com essa formação, a banda ainda conta com o auxilio luxuoso de Maheus Prado nas percussões, Anderson Quevedo no sax barítono, Daniel Nogueira no sax tenor – ambos também tocam flauta – , Jaziel Gomes no trombone e Paulinho Viveiro no trompete, sem falar no trio de cordas formado por Fabio Tagliaferri na viola, Otávio Teco no violino e Mário Manga no violoncelo.

O disco abre com 'Manchetes da solidão`, uma balada popular com letra sofisticada e final apoteótico. Com letra em inglês, 'New country' apresenta uma crônica de uma realidade utópica, que serve para aplicar o ouvinte no groove que permeia todo o álbum. 'Bucolimo' segue de leve com o balanço soul e levada meio reggae, numa canção pós-rural.

A sequência da narrativa da banda nos leva ao retrato de um momento qualquer em 'Pode acontecer', com participação do próprio produtor do disco, Nick Graham-Smith no teremim. 'L.A. Disco' leva o ouvinte ao cenário “black music” do final dos anos 70, com o moog de Mauricio Orsoloni e participação de Kid Congo Powers. “Mas eu tenho fé” diz a letra pontuada pela guitarra característica do funk norte-americano.

'Eu vou sorrir pra quem é gente boa' rema nas boas energias de todas cabeças abertas e loucas o suficientes para curtirem o jazz de Thelonius Monk. 'A Nuvem' traz a participação de Lurdez da Luz e resume o intuito de todo álbum, com suas 'Feras Míticas' e soberanas – também ganhou clipe psicodélico. Outra letra em inglês, 'St. Mark`s theme' assume a porção rural-psicodélica cheia de boas vibrações da banda.

'Bicho' é mais uma canção pra bailar no salão e suingar deslizando os pés no chão, que remete à alegria pós-tropicalista na música brasileira. Paulo Miklos participa de 'Charles Chacal', canção sobre o terrorista Carlos Chacal do repertório dos Titãs pré-'Cabeça Dinossauro'. 'Roots are for trees' explana sobre o famoso e consagrado botão do “foda-se”.

'O primeiro dia' encerra o álbum com a balada rústica de alto astral, com outra participação de Graham na guitarra slide. 'Garotas Suecas' apresenta um forte petardo musical, com alta possibilidade de figurar entre os melhores do ano.

2013 Feras Míticas

1. Manchetes da solidão
2. New country
3. Bucolismo
4. Pode acontecer
5. L.A. Disco
6. Eu vou sorrir pra quem é gente boa
7. A Nuvem
8. St. Mark`s theme
9. Bicho
10. Charles Chacal
11. Roots are for trees
12. O primeiro dia

9.15.2013

TEMPO ILUSÃO DE RODRIGO BEZERRA

Jovem guitarrista e produtor apresenta álbum cheio de grandes canções e interpretações próprias, que vão do jazz ao samba.  


Rodrigo Bezerra é o produtor e diretor artístico do álbum de estréia de Ellen Oléria, 'Peça' de 2009, além de tocar guitarra nas apresentações ao vivo. Bezerra sempre deu mostras de enorme talento ao simplesmente deixar brilhar e florecer a cantora, que hoje é unanimidade nacional. Reza a lenda que o bom guitarrista no jazz é aquele que não aparece, mas quando deixa de tocar todos sentem sua falta. Rodrigo rezava a cartilha com maestria, enquanto acompanhava Ellen, mas agora aparece como um furacão no seu segundo álbum solo, 'Tempo Ilusão', o primeiro no qual também canta.

Uma estréia pungente e singela num disco de rara beleza, que não é apenas uma obra de jazz, mas um compêndio de belas composições, orquestradas com maestria por Rodrigo Bezerra, que apresenta canções autorais, num disco sóbrio e maduro, que abre com a faixa título. 'Tempo ilusão', um jazz-fusion com tempero brasileiro, com solo de guitarra de Pedro Martins. 'Circular' traz o violão de Bezerra pontuando o ritmo, quebrado apenas pelo solo de teclado de Felipe Viegas, que participa de todas canções.

O dedilhado delicado do violão de Bezerra evoca esperança em 'Esperar' pelo amanhecer, pelo novo amor, por mais sorte, por mais força e por todas aquelas utras pequenas coisas que devemos todos esperar. 'A criança' segue a mesma linha melódica da faixa anterior. 'Além de acordes' é um samba-jazz pontuado pelas baquetas de Renato Galvão e trompete de Westonny Rodrigues, com letra e vocais de Ana Reis.

'Trilhos' é uma canção suave e delicada, que segue crescendo até o final. 'Bandeiras, pra quê?' traz participação de Bruno Patrício na flauta – que também toca saxofone em outras faixas – e reflete sobre as questões de fronteiras universais. 'O homem formiga' segue marchando na melodia intimista, seguida pela balada do violão de Bezerra e do piano de Viegas, 'Mais é menos'.

'Celebrar' encerra o álbum em alto astral com os sopros de Rodrigues e Patrício, a bateria de Galvão, teclados de Viegas, sem falar no violão, guitarra e voz de Rodrigo Bezerra. Uma estréia grandiosa para um jovem cantor, que já tem muita experiência como guitarrista, arranjador e produtor.

2013 Tempo Ilusão

1. Tempo ilusão
2. Circular
3. Esperar
4. A criança
5. Além de acordes
6. Trilhos
7. Bandeiras, pra quê?
8. O homem formiga
9. Mais é menos
10. Celebrar

9.08.2013

O SOM TROPICAL BREGA PARAENSE DE JALOO

DJ paraense faz sucesso com música eletrônica e tecnomelody em remixes de grandes sucessos e canções autorais.


Jaloo é paraense, nascido no interior do estado em Castanhal sob o nome de Jaime Melo. Seus remixes e beats próprios começaram a aparecer na internet em 2010 e desde então seu nome passou a ser reconhecido como um dos jovens expoentes da nova cena musical do Pará.

Já em 2012, Jaloo lançou o álbum de remixes, 'Female & Brega', com reimaginações a canções de sucesso de gente como Adele, Kyle Minogue, Amy Winehouse, M.I.A., Donna Summer, Beyoncé, Grace Jones, Bjork, entre outras vozes femininas.

Recentemente Jaloo participou da coletânea de música brasileira eletrônica, 'Hy Brazil vol. 1', com a canção 'Pa Parará'. Neste mesmo ano, lança o EP 'Couve', para mostrar algo além dos remixes. O resultado deste EP surpreende pela desconstrução de cada hit de sucesso e adequação do material à voz de Jaloo e ao ritmo eletrônico que ele mesmo representa, o tecnomelody.

Como entrega o título bem humorado, 'Couve', o DJ paraense apresenta covers de clássicos da música pop gringa, sem esquecer do lado brasileiro – ele gravou 'Baby' de Gil e Caetano e sucesso na voz de Gal, e também regravou 'Cira, Regina e Nana' de Lucas Santtana. Os outros covers são de Rhianna, Sia, Grimes, Lykke lie, Crystal Casttles e Teddybears.

2013 Couve EP

1. Cobrastyle (Robyn-Teddybears cover)
2. Crimewave (Crystal Castles cover)
3. Diamonds (Rihanna cover)
4. Breathe Me (Sia cover)
5. Oblivion (Grimes cover)
6. I Follow Rivers (Lykke Li cover)
7. Cira Regina e Nana (Lucas Santtana live cover)
8. Baby (Gal cover)

9.01.2013

CEDO SOOU O SOM DO SÁBADO DE CÍCERO

Cantor carioca apresenta segundo álbum de canções repletas de poesia concreta, melodias simples e arranjos complexos.


Depois de uma estréia arrasadora, com o álbum 'Canções de Apartamento', Cícero voltou sua atenção às praças, coretos e vielas do Rio de Janeiro. Ele desceu do bondinho de Santa Teresa, no centro da cidade, e abraçou o experimentalismo da poesia concreta no segundo disco, 'Sábado'.

Diferente do primeiro registro, nesse novo lançamento Cícero apresenta canções mais intimistas e delicadas com arranjos singulares e complexos. Mesmo assim soando como uma sequência natural ao antecessor. Seguindo a cronologia iniciada pelos Mutantes em 'Fuga n˚ 2', ele apresenta uma possível continuação em 'Fuga n˚ 3 da rua Nestor', que abre o disco, e depois 'Fuga n˚ 4'.

Todas as canções emanam a assinatura característica de Cícero. Como um crônista do cotidiano, ele encarna o concretismo e desconstroi as narrativas com poemas melódicos. Destaques para 'Por Botafogo', 'Asa delta' e 'Frevo por acaso', que seguem a linha da poesia concreta cotidiana.

'Capim-limão', 'Ela e a lata', 'Para animar o bar', 'Duas quadras' e 'Porta, retrato' completam a obra e apresentam um lado mais ousado, sem perder as características que destacaram o cantor e compositor carioca.

Com produção do próprio Cícero e pelos Brunos, Schulz e Giorgi, o disco foi todo gravado de forma caseira nas residências dos amigos, novos e antigos. Participações de gente como Mahmundi, Luisa Mayall, Marcelo Camelo, Silva, Uirá Bueno e dos dois co-produtores.

Um disco essencial para entender o novo cenário da música popular brasileira.

2013 Sábado

1. Fuga n˚ 3 da rua Nestor
2. Capim-limão
3. Ela e a lata
4. Fuga n˚ 4
5. Pra animar o bar
6. Por Botafogo
7. Duas quadras
8. Asa delta
9. Porta, retrato
10. Frevo por acaso