12.01.2013

O GRANDE BARCO É DO TAMANHO DO MUNDO

Sids Oliveira ressurge com 'O Grande Barco' em álbum de poemúsica, onde ele apresenta influências de Walt Whitman, João Cabral de Melo Neto, Guimarães Rosa, entre outros.  


Para falar d'O Grande Barco' é preciso antes estabelecer as motivações do personagem principal do projeto – o poeta Sids Oliveira.

A primeira incursão de Sids na área musical foi com a banda de punk-rock 'Pastel e Caldo de Cana', que manteve ao lado do colega Luiz Alfredo, hoje conhecido como Alfredo Bello, ou DJ Tudo. Depois cantou com a banda 'Maya Desnuda', que também tinha gente como Sergio Cepa, George Lacerda, Janaina Sabino, entre muitos outros. Quando a banda se separou, Sids continuou como duo junto com Cepa, apenas guitarra e voz, no que ficou conhecido como 'Poesia Oblíqua'.

Foi esse projeto que determinou o surgimento d'O Grande Barco', com bases eletrônicas e guitarra e voz. O lançamento do primeiro álbum aconteceu através de um livro de poesia musicada, ou como o próprio Sids prefere nomear de “Poemúsica” - 'Um Dedo de Prosa, Uma Mão de Poesia'. O disco, lançado em 2005, vinha encartado no livro e tinha diversas participações especiais, dentre elas a do guitarrista Sergio Cepa e do baixista e produtor musical Alfredo Bello, no que foi uma de suas primeiras incursões na área de produção.

Hoje, 'O Grande Barco' renasce na forma de álbum virtual, mas com a essência intacta de poesia musicada, ou como prefere Sids, “poemúsica”. Atualmente a banda conta com Davi Abreu nas programações e flauta, Leandro Morais nas guitarras e do próprio Sids Oliveira na voz e programações.

Neste novo álbum, Sids aprimora a sua fórmula de composição, criando uma poesia cada vez mais musicalizável. Com isso quero dizer que os poemas de Sids sempre foram muito musicais, desde a época da 'Maya Desnuda', mas atualmente nota-se a evolução da mensagem desse personagem.

'O Grande Barco' lançou, não apenas um disco de “poemúsica”, mas um álbum repleto de boas canções. Sids apresenta uma mistura homogênea de repente, xote, reggae, ciranda e diversos ritmos brasileiros com batidas eletrônicas e guitarra, flauta e voz.

Com isso, deixo a palavra com o próprio personagem desta história, o próprio Sids.

Houve um longo hiato entre o primeiro álbum e este segundo... O que você andou fazendo nesse tempo?
Fiz um segundo livro de poesia, 'VOOS' (a ser lançado) e um livro infantil 'Lili e o Dragão' (também a ser lançado). Participei do livro-coletânea 'Fincapé' (2011) do 'Coletivo de Poetas' daqui de Brasília e do DVD/CD do 'DJ Tudo e sua Gente de Todo Lugar' ao vivo no auditório do Ibirapuera, São Paulo (2011) do amigo e parceiro Alfredo Bello em sampa. A música 'Verdelinho' (do primeiro disco) foi remixada pelo DJ Tudo e lançada no CD 'Garrafada' (2008). Tem uma poesia de minha autoria no CD 'Sim One Sou' (2011), de Simone Sou, em russo e português. Também participei com voz e poesia, em duas faixas, no cd 'Projeto Cru' com Simone Sou, Alfredo Bello e Marcelo Monteiro em 2006 em São Paulo. Agora em 2013 minha poesia 'Tango 78', da época do 'Maya Desnuda', e que está no primeiro livro, fez parte da dramaturgia do espetáculo 'Infinito Vazio', da premiada 'Semente Cia de Teatro', do Gama. Fiz também um Laboratório de Poéticas no Espaço 'Semente'...

Qual é o ponto de partida de suas poesias?
Como podes conferir os temas são variados, assim como as linguagens... Em alguns casos fico intrigado com um verso, uma imagem, um acontecimento... em 'Tantinho do mundo', por exemplo, o verso "o sertão é do tamanho do mundo", de João Guimarães Rosa (martelou, no bom sentido, por meses em minha cabeça e ser), e daí saiu que "o Gama é um tantinho do mundo/ um risinho do fundo/ um chorinho profundo"... "é o que me leva e trás a você"... "quem Gama mora no Ama" (parafrase da famosa anônima "quem ama mora no Gama)...
Em outros casos eu brinco, como em 'Eu rio' que veio de uma poesia visual onde formo um rio com os dois versos que se seguem) "eu rio para a existência/ eu rio para a experiência".... daí fui brincando, rindo, seguindo... Já em 'Toque' entra, também, a sonoridade das palavras, o sutil, o singelo com brincadeira também...
'Célula' veio das pesquisas sobre célula tronco, sobre a possibilidade de seres humanos serem criados em "máquinas"...
'Elas na feira' nasceu da emoção transmitida pelas ceguinhas Maroca, Poroca e Indaiá... Elas, as ceguinhas, são maravilhosas como as milhares de mulheres de nosso Brasil (sugiro imagens de mulheres guerreiras na letra), como a minha mãe (agradecido mãezinha!!!).
Os processos são múltiplos.

Como foi o processo de gravação deste álbum?
Foi simples. Optamos por manter as bases/composições criadas a partir do Reason (programa eletrônico de edição de áudio), daí foram aplicados plugins e ajustes de timbres pelo Luiz Oliviéri, nosso produtor, e as músicas foram crescendo, singelamente, encorpando. As gravações foram feitas com poucos takes, praticamente diretas, e algumas sugestões foram aplicadas durante o processo, como em 'Toque, onde eu queria, sentia a necessidade, de que a música ficasse maior e ficou. As participações especiais foram pontuais com os meus amigos-irmãos Alfredo Bello e Marta Carvalho, em 'Elas na feira', e do Luiz Oliviéri, em 'Descalço'.

O primeiro disco foi feito como obra suplementar ao livro de poesias... Nesse segundo trabalho, você acredita que a situação se inverteu? ...que hoje as letras vêm em função da música...
Não. A diferença que vejo deste segundo álbum para o primeiro é que participo mais diretamente do processo musical, graças ao Reason.
No primeiro disco eu encaixava mais as letras nas músicas ou falava para os músicos a minha idéia musical que vinha a partir da letra, do seu ritmo, das suas cores... em alguns casos a idéia era só de vozes.
Bom, o processo criativo em si é bem parecido entre os dois discos, ou seja, não existe um caminho definido. Por exemplo em 'Descalço' eu já tinha as duas letras (e a idéia da "levada" delas), daí comecei a brincar com o Reason e encaixei as letras e melodia na base/composição, daí o Davi também brincou com o Reason e criou a melodia da flauta, um synth e o baixo da parte do "paranoá". Em 'Célula' o Davi chegou com a música pronta e eu fui brincando com a letra, juntei duas idéias que estavam esperando a música. Já em 'O capoeira' o Davi trouxe a primeira parte da música, com influencia da música eletroacústica, e encaixei a letra com o jogo de capoeira, mas, intrigado, achando que podia mais, eu acrescentei bateria, percussão e outros elementos eletrônicos como guitarra... Daí fui brincando com a letra e chamei o Chico Science e o João Cabral de Melo Neto, em memória... Se reparares nela, na composição, verás que damos um rolê por Recife e Olinda, em companhia mais que poética, com o Chico e o João Cabral.
A música por vezes chama a letra, mas a letra também chama música. Gosto disso.

Qual é sua posição sobre esse assunto de livre compartilhamento? Acessibilidade ou pirataria?
Disponibilizamos este segundo álbum como o primeiro também... Acessibilidade!!!
Mas respeito os artistas que querem ganhar o seu por meio do seu trabalho, o lance é que esse processo da disponibilidade de bens é um caminho sem volta, creio. Assim seja!
Pra completar, na segunda metade dos anos oitenta vivenciei o "faça você mesmo" e vejo essa disponibilidade toda como uma consequência disso, ou seja, faça e deixe fazer, compartilhe, compartilhe-se. Eu Ovo!!!

2013 O Grande Barco

1. Toque
2. Eu rio
3. Descalço
4. Tantinho do mundo
5. Fênix
6. Célula
7. Elas na feira
8. O capoeira
9. Ciranda de ciranda

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